A alegria de aguardar a sazonalidade das frutas
Caqui é minha fruta preferida. Ao invés de ficar triste por ela não estar disponível o ano inteiro, vibro de felicidade com a chegada da sua época lá pelo mês de maio. Em fevereiro já começo a salivar pensando na hora de cortar em gomos, ralar casca de limão por cima e encher a boca com aquele suco tudo. Afora as geleias, caldas doces e salgadas, tortas… chega a ser pornográfico pra mim!
Em todos os países que já visitei (não são tantos assim, mas tenho notícias pelos meus amigos), puxo assunto sobre comida e não demora muito tempo para a galera falar das nossas frutas: sempre tão diversas, tão peculiares, tão tão. Semana passada bateu uma vontade danada de comer uma torta gelada com calda doce enquanto eu estava resolvendo uns corres do meu curso na Savassi, um bairro conhecido em Belo Horizonte pelas muitas possibilidades de restaurantes, cafés, livrarias e cantinhos equivalentes. Como quase nunca minha boca saliva por doces, decidir andar alguns quarteirões a mais para caçar alguma sobremesa.
Visitei cinco lugares, mas nenhum deles tinha opção com caldas de frutas brasileiras. Todos exibiam cheesecake com morangos em pleno verão, assim como framboesas e blueberries que custam muitos dinheiros e vêm congeladas e embaladas em plástico. Nada de frutas frescas, muito menos frutas brasileiras dessa época. Que fetiche cruel esse de gostar tanto de alguma coisa só por que ela não tá disponível, né?
E não para por aí: a lógica do mercado maltrata os pequenos produtores. Novembro é época de jabuticaba e mamão, por exemplo. Com a produção a todo vapor, há mais dessas frutas disponíveis do que em outras épocas do ano. Com isso, o preço cai e, ainda que a demanda aumente, se não vender rápido elas estragam. Por causa dessa soma de fatores os donos de grandes mercados se aproveitam da grande oferta para pagar menos a quem produziu.
E se quem tem poder de escolha procurasse para comprar somente o que está na época? E se encomendássemos esses frutos, frutas, legumes e verduras da estação para criar uma demanda? E se ao invés de irmos ao supermercado, frequentássemos mais feiras? Alguns bairros também contam com frutíferas.
É com essas ideias que trago hoje uma receitinha delícia e simples de calda agridoce de jabuticaba, um sucesso para servir com risotos, saladas e sorvetes. Certa vez fiz essa broa de fubá e joguei por cima a calda quentinha, recém feita, ficou de babar!
Ingredientes para cerca de 300ml da calda de jabuticaba
1kg de jabuticabas inteiras
2 xícaras de açúcar cristal ou demerara
1 pitada de sal
1 litro de água filtrada
1 cl. (sopa) de óleo de coco
Especiarias a gosto (vale pimenta do reino, cumaru, cravo, anis estrelado, zimbro, canela…)
Como fazer
Coloque as jabuticabas numa bacia e amasse com as mãos para estourar todas elas.
Leve as jabuticabas estouradas a uma panela em fogo médio e deixe ferver até formar um caldo espesso e bem roxo.
Desligue o fogo, coe o caldo e descarte os sólidos.
Acrescente os outros ingredientes e volte com a calda para o fogo médio.
Deixe engrossar até chegar no ponto desejado (gosto de deixar reduzir pela metade, para render pelo menos 300ml de calda).
Dura cerca de um mês na geladeira se guardada num pote higienizado e bem vedado.
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