Preciso de natureza para recarregar as energias, mas como onde moro não dá pra viver com o pé na terra e a bunda na água, minimizo a falta de mato cultivando um mundo de plantas.
Um dedo de prosa
Na tentativa de fazer as pessoas se aproximarem de seus fogões, criei a lista com 10 atitudes para cozinhar mais em casa, parte I, e de lá para cá tenho pensado bastante em como existem várias crenças que nos afastam desse autocuidado.
Algumas delas estão impregnadas no inconsciente coletivo, como:
– “Existe um tipo de corte para cada vegetal”
O que é suficiente?
Fecho os olhos, despejo o que está aqui dentro no teclado do computador pois hoje meus pensamentos não tinham tempo para papel e caneta. Mesmo diante de todos os compromissos cumpridos, das novas propostas feitas aos clientes, dos produtos embalados, dos quilos de papéis organizados, de tudo pronto e formulado, cursos dados, escrivinhanças aleatórias para o blog, planejamento das próximas semanas e todas as coisas relacionadas ao trabalho que ocuparam minha agenda hoje, a culpa vem me visitar dizendo que não estou fazendo o suficiente.
Afinal, comida sem veneno custa mais caro?
Segundo o Instituto Kairós, um orgânico num supermercado pode custar de 2 a 4 vezes mais caro. Aqui em Belo Horizonte, onde moro, já vi um maço de rúcula mirrado por R$12 e uma bandejinha de batatas por R$18, ambas embaladas em plástico filme e isopor.
Sou uma pessoa saudável segundo minhas próprias convicções e também de acordo com os exames de sangue que faço de 6 em 6 meses a pedido de profissionais da saúde. Levando em conta esses fatores e também minha condição privilegiada de mulher branca e jovem que estuda bastante as plantas, uso, sempre que posso, infusões no lugar das droguinhas farmacêuticas.
Exemplos? Ao invés de tomar Buscopam para eventuais cólicas menstruais, muitas vezes a infusão de novalgina resolve (1 cl. sopa para 1 copo d´água); no lugar do Xantinon, Pantoprazol ou Pepsamar, 4 folhas de boldo espremidas com as mãos mesmo num copo com água morna melhoram rapidinho a vida do meu fígado; Omeprazol para que, se eu tenho infusão de erva doce, que é digestiva para caramba e ainda acalma sentimentos? Remédio forte para gripe nunca mais comprei, quando o corpo pede, peço ajuda para os senhores alho, gengibre, açafrão da terra, inhame e cebola, todos eles levantam meu ânimo.
Já ouvi muitas críticas ao termo “cura pela cozinha” ou “comida que cura”. De fato, essa combinação de palavras perdeu bastante sentido por conta da sua cooptação pela indústria de alimentos, que a todo momento fica querendo enfiar pelas nossas goelas produtos milagrosos, muitas vezes importados, que custam um rim. Por outro lado, quanto mais estudo a propriedade das plantas, mais me convenço que a gente precisa repensar o consumo indiscriminado de alopáticos o tanto quanto for possível e voltar a fazer uso da natureza como antigamente.
Estive numa roda de conversa liderada por Maria, uma curandeira de 87 anos, que falou uma frase boa para refletir:“antes não tinha esse negócio de ir no dotô, quando menino ia parar no hospital ou no médico, já podia despedir ali mesmo, que não tinha mais volta”.
Romantizações, exceções médicas e nostalgias à parte – até por que a média de vida do brasileiro aumentou, é muito séria essa necessidade da gente parar de achar que farmácia é shopping center. Já trabalhei com um colega que tomava remédio “só por garantia” todos os dias pela manhã, já que, segundo ele, costumava ter dores de cabeça com frequência e não valia a pena cuidar direito da saúde. Tentei muitas vezes convencer o rapaz a tomar infusões, tive êxito numa ou outra oportunidade, mas ele nunca quis se consultar com especialistas, achava mais vantajoso comprar remédio no esquema “pague 4, leve 5” e engolir as pílulas “milagrosas” com a ajuda de uma xícara de café.
Muitas vezes os remédios alopáticos são necessários mesmo, eu sei! Não estou tentando convencer todo mundo boicotar os alopáticos ou parar de se tratar sem consultar um médico, viu? Meu ponto é: será mesmo que a gente não perdeu a mão nesse consumo desenfreado?
Nilton Bonder, em A Cabala da Comida, fala que “é preciso ter consciência de que (…) ignorar um simples mal-estar ou dopar-se com remédios pode fazer no máximo com que a luz amarela se apague, o que não quer dizer que desapareçam suas representações emocional e espiritual em outros níveis, mas tão somente que será mais difícil identificá-las, pois cada plano apresenta um quadro de sintomas próprio”. Tentar absorver essa premissa de forma profunda é um dever que podemos traçar para nós mesmos, pois o sistema do corpo comunica!
Novalgina: planta ou remédio?
A indústria nos engole a ponto de pensarmos coletivamente que novalgina não é uma planta, e sim um remédio. Acontece que essa maravilhosa, conhecida também como “mil folhas” (Achillea millefolium), pode ser cultivada na sua casa em qualquer cantinho, e ouso dizer que a maior parte das pessoas nunca deve ter ouvido falar dessa possibilidade, tô certa?
O mesmo acontece com a Stevia rebaudiana: quantos de nós associa o nome “stevia” ao frasco transparente com gosto de remédio que teoricamente serve para substituir o açúcar? (detesto esse produto com todas as forças, hahahaha!).
A Novalgina é tão linda que muita gente usa para fins ornamentais
Livros para saber mais
Se você tiver interesse no assunto e quiser trazer mais plantas para sua vida, indico estes dois livros, que sempre estão às minhas mãos quando preciso fazer consultas:
Plantas Medicinais No Brasil, Nativas e Exóticas, por harri lorenzi. Editora: Plantarum
Plantas Alimentícias Não Convencionais No Basil, por Valdely Kinupp e Harri Lorenzi. Editora: Plantarum.
ira e mexe me perguntam como fiz pra aprender a cozinhar e sempre respondo a mesma coisa: tentando, errando, tentando, errando, tentando outra vez e finalmente acertando (ou não). Há vezes que testo uma receita 5, 10 vezes até ficar do jeito que quero. O primeiro passo é ter humildade e reconhecer que não nascemos sabendo. Se não tentarmos, como vamos aprender?
Como tomar gosto pela cozinha?
Várias pessoas já me perguntaram como fazer os olhinhos brilharem na hora de ir para a cozinha, mas a verdade é que não existe receita pronta. Ainda que a gente se conecte com a alimentação, não há nenhuma garantia que você vai executar pratos com um sorrisão na cara todos os dias. Até eu, que vivo da cozinha e sou fascinada pelo universo culinário, sou de vez em quando surpreendida pela preguiça. Nessas ocasiões a banana vira jantar, e tá tudo bem.
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